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Dec 04, 2023

Antigos pingentes feitos de ossos de preguiça gigante sugerem que os humanos estiveram nas Américas antes do que se pensava

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Uma descoberta inédita feita por arqueólogos que trabalham no Brasil está abalando o que sabemos sobre os primeiros habitantes das Américas.

Três ossos gigantes de preguiça encontrados no abrigo rochoso de Santa Elina, no centro do Brasil, foram provavelmente perfurados e polidos por mãos humanas para serem usados ​​como adorno pessoal – provavelmente como pingentes, de acordo com um novo estudo.

Os pingentes – que se acredita terem entre 25 mil e 27 mil anos – são os mais antigos ornamentos pessoais conhecidos descobertos nas Américas e os únicos conhecidos por terem sido feitos de osso de preguiça gigante no registro arqueológico, de acordo com a paleontóloga Thais Pansani, líder autor de um novo estudo sobre os artefatos. Ela é pesquisadora de pós-doutorado em ecologia e recursos naturais na Universidade Federal de São Carlos no Brasil.

Os três pingentes de osso de preguiça estavam entre milhares de osteodermos – placas ósseas incrustadas na pele da preguiça semelhantes às escamas de um tatu – encontradas no abrigo rochoso que pertencia a uma espécie extinta de preguiça gigante conhecida como Glossotherium phoenesis. O local também apresenta arte rupestre de formas animais e humanas, embora a idade exata dos painéis ainda não esteja clara para os cientistas.

A criatura da era glacial pesaria cerca de 600 kg (1.323 libras) – maior do que a maioria dos ursos marrons atuais. Embora se pensasse que G. phoenesis era uma espécie relativamente pequena de preguiça gigante, algumas espécies antigas de preguiça eram tão grandes que suas tocas fossilizadas são agora cavernas no sul do Brasil pelas quais os humanos podem caminhar.

A autora sênior do estudo, Mírian Pacheco, professora e pesquisadora do Laboratório de Paleobiologia e Astrobiologia da Universidade Federal de São Carlos, disse que os artefatos “apresentam um formato de pingente muito sugestivo, principalmente pelo polimento e pela localização do furo. ”

A equipe analisou os três osteodermos modificados e não modificados e realizou experimentos em alguns dos ossos fossilizados e em seu análogo moderno mais próximo – os osteodermos de tatu – para entender como os pingentes foram feitos, explicou Pacheco. Marcas microscópicas revelaram que eles foram polidos por mãos humanas antes de os ossos serem fossilizados, disse ela.

Pacheco disse acreditar que humanos e preguiças gigantes coexistiam no local. Um herbívoro com longos braços com garras projetados para escavar, a criatura não teria predado humanos.

“Embora tivessem um metabolismo baixo, eram animais ágeis que andavam predominantemente de quatro, embora pudessem ficar de pé (principalmente para obter alimento nas árvores). Não podemos dizer se os humanos viam estes animais como uma ameaça”, disse Pansani por e-mail.

Os pingentes não foram datados diretamente porque os pesquisadores não queriam danificar os artefatos extremamente raros.

No entanto, Pansani disse que a equipe datou outro material – sedimentos, carvão e outros ossos de preguiça gigante – da mesma camada onde os artefatos foram recuperados.

“Todas essas datas coincidem com idades entre 27 mil e 25 mil anos atrás, então podemos inferir que a idade dos artefatos está nesta faixa”, disse Pansani.

As Américas do Norte e do Sul foram os últimos continentes a serem habitados por humanos modernos, mas exatamente quando isso começou é um tema que tem dividido os arqueólogos. Muitos especialistas duvidam que os humanos tenham ocupado as Américas antes de 16 mil anos atrás, observou o estudo.

No entanto, evidências recentes, incluindo a descoberta de pegadas humanas fossilizadas no Novo México, em 2021, que datam de 21.000 a 23.000 anos, sugerem que os primeiros humanos chegaram à América do Sul mais cedo do que se pensava.

“A confirmação da idade desses artefatos de Santa Elina fortalece a hipótese de ocupações humanas mais antigas nas Américas”, disse Pacheco.

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